Esquecer Eu Quisera
Posted by amizadepoesia em Fevereiro 24, 2007
Esquecer eu quisera…
Ah, quem me dera!
Minha mente alucinada vibra, gira…
Entorta minha cabeça,
Mas sempre diz sim às lembranças…
Que não esqueço!
Esquecer eu quisera…
Da responsabilidade da vida
Que me engole aos pedaços,
Sem mastigar minha carne,
Sem sentir meu gosto!
Esquecer eu quisera…
Das décadas todas da minha vida,
Onde presenciei uma guerra traiçoeira
Através de filmes, jornais…
E revistas sem censura!
Bombas despencando
Sobre cabeças adormecidas,
Antes mesmo do alvorecer…
Explodindo sem aviso, destroçando
O que encontravam à sua frente!
Esquecer eu quisera…
E não mais lembrar do medo que eu sentia,
Sem saber se era verdade ou mentira,
O que eu via e ouvia!
O pavor tomava conta do meu corpo
Encolhido na cama…
Onde meus olhos choravam!
Não havia entreatos…
Os soldados jamais voltavam,
Ao levantar do pano,
Para o início do segundo ato!
Ficavam ali, tombados, expostos às moscas,
Vermes e abutres esfaimados!
Onde, os deuses ensandecidos,
E toda sua maldade?
Nunca soube que em sua sanha…
Houvessem deuses compadecidos…
Ao assistir o sofrimento do povo!
Compaixão não existia por qualquer alma,
Por alma nenhuma… E nem por nada!
Esquecer eu quisera…
E não lembrar mais dos fogos da minha infância,
Por não serem eles bonitos, como fogos de artifício!
Fogos daninhos que me assustavam…
Faziam-me tremer de pavor…
Porque a queima de fogos apresentados…
Nunca passaram de bombas, canhões,
Rajadas de metralhadoras, aviões explodindo,
Pára-quedas no ar incendiando!
Esquecer eu quisera…
E apagar da lembrança, a visão de soldados
Desacompanhados de suas damas,
Dançando uma valsa desconexa nos campos de batalha…
Rodopiando até à morte!
Esquecer eu quisera…
De donzelas graciosas, que, existiram sim,
Mesmo que por pouco tempo…
Vítimas inocentes, violentadas e mortas,
Por seres sem escrúpulos!
Esquecer eu quisera…
Dos rapazes, que, nasceram sim,
Mas os governos em seus extremos,
Os tornaram adultos de pouca idade!
Seguiam aos campos de batalha
Com passagem paga!
Partiam com pouca bagagem
Sem o bilhete de volta!
Esquecer eu quisera…
Que eu não andava por ruas, e ruas…
Eu não andava por rua nenhuma,
Pelo pavor que os bombardeios me causavam…!
E o barulho imaginário das bombas…
Explodindo em meu quintal avermelhado
Refletindo a cor das chamas…!
Eu não escrevia frases, nem frases…
Eu sabia, mas não escrevia nada…
Apenas orava, e orava…
Para que Deus fizesse calar o ruído das armas
Que martelavam meu cérebro e ouvidos,
Pondo-me em estado de alerta…
Ao imaginar bandeiras esgarçadas,
Hastes cravadas ao solo, pelas mãos de soldados
Ao se apossarem de novas terras ensangüentadas.
Naquela época, o relógio do tempo era calmo…
Não gritava, não dava ordens, nada demarcava…
Para ele pouco importava o fim, ou o começo de nada!
Ah, se eu entendesse de profecias quando criança,
E soubesse que o instante é fixo,
Mas não duradouro, talvez não tivesse sofrido tanto!
Ah, quisera ainda lembrar das santas…
Que cultivavam rosas…
E de suas imagens cristalizadas,
Ocultas em algum canto de minha memória!
Aonde, o mundo, o povo sem vida
Enterrando seus mortos?
Como seria bom serem eternos,
Somente pensamentos que nos fizessem reviver
Momentos mágicos!
Esquecer eu quisera…
Mas como?
Se ainda me lembro o quanto doeu,
E dói, o terror do holocausto,
Da guerra maldita que me volta à memória,
Ou em pesadelos, reaviva meus medos,
Fazendo rolar novamente…
Cada lágrima chorada dos meus olhos…!
Iracema Zanetti
À amiga Rivkah Cohen
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