NASCI TÃO LONGE
Posted by amizadepoesia em Junho 8, 2007
E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças
que não vivi.
É certo que a minha geração também sofreu na carne e no espírito os horrores
das violações, das bombas, das minas, das balas perdidas na defesa de terras
longínquas que diziam ser nossas e apenas porque tivemos o mérito de as
descobrir ou terá sido achar?
E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças
que não vivi, dos sofrimentos sem fim, das bombas enviadas pelos céus de
nações que se dizem amigas e que apenas procuram sugar o ouro da tua terra.
Homens-bomba a que lhes foi ensinado que o paraíso espera recheado de coisas
belas por eles. Até na morte há a ganância de conquistar esse paraíso.
O uso indiscriminado das religiões onde nem uma se salva na procura da Paz
terrena.
O inculcar do sofrimento ao homem dizendo, pregando que isso é natural como
se houvesse prazer no sofrimento.
A educação prenhe de maldade que incute a um pequeno ser o ódio e o
transforma numa maquina de matar, seja para roubar ou para salvação da alma,
seja para matar a fome ou pelo simples prazer de matar.
E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças
que não vivi, da fome que não senti.
E com isso sinto-me um homem vil, déspota, com a desgraça lambendo-me as
raízes do pensamento, porque não lutei, nem com as palavras.
Cobarde acobertei-me nas asas do corvo e calado segui todos estes anos
mirando os horrores à minha volta.
Não gritei, não fiz ouvir a minha voz, não soube dizer Não, não soube dizer
BASTA.
E tu aí tão perto de todas as guerras com o teu corpo ardendo, com tua alma
descendo aos infernos, não sabendo o porquê do que te fazem, já não
acreditando no que te dizem.
E tu aí sem saberes o porquê terminam com tua vida no fogo do inferno.
E eu que nasci tão longe miro em uma foto o teu ultimo sopro de vida. Com
pena, com tristeza, talvez com um pouco de horror.
Mas que fazer? eu que nasci tão longe…
Victor Jerónimo
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