Nas rotas que não se cruzam, na cumplicidade eterna das paralelas
No amaro íntimo, intrínseco às despedidas, no café de todo dia,
Nos versos comuns, nas manchetes dos jornais, no pão de todo dia
Nas ruas, nas mulheres nuas, nos meninos cheirados, na droga de todo dia
Bom dia… País da delicadeza perdida
Meus versos sentem a seiva de vida dos morros, das periferias
Dos pronto-socorros, de ir e vir – com as mãos vazias
Tem o sangue e está entre os sacos estirados da última chacina
Está infectado, picado com seringas, meu verso está nas prostitutas,
Chocado? Viaja entre linhas brancas ou o fogo das pedras
Alucinado, dança entre bijuterias dos transviados
No café de todo dia, no pão de todo dia, na droga de todo dia
Bom dia… País da delicadeza perdida
Já aprendi a sobreviver nas esquinas definitivas, e sinto como é pesada a franqueza
Poesia não é sobremesa, não estou aqui para acalentar dores,
Escrevo abaixo da “linha da pobreza”, bem dentro dos olhos e com muita dor
Mas não me iludo, não me engano, meus versos são pelos seres humanos
A poesia é para sermos humanos
No café de todo dia, no pão de todo dia, ainda que seja na droga de todo dia
Bom dia…
Tonho França.