Naquele dia o vento esgotou suas forças
Sua ira era imensa, o impacto descomunal
Então, finalmente, a impassibilidade…
Deu de ombros e descansou sobre os destroços
Um menino passou procurando sobras
O ventou arfou, constrangido, pela fúria incontida
E penalizado, lamentou os estragos
Seus argumentos eram vagos, pensou
Obedecera ao impulso momentâneo
Cumprira seu destino, seu papel
A natureza às vezes é cruel, quando faz sua parte, ponderou
Naquele dia o vento não carregou aromas de flores ou ambrosias
Arrastou o terror e o cheiro de morte atrás de si
Deixou um rastro de dor e confusão
Por incontáveis minutos sua face encrespou-se
Esqueceu de sorrir, sem saber ao certo
A que pretexto derramou sua ira sobre o mar
Nem mesmo em seu íntimo lia-se uma resposta
E assim como encorpou-se e destruiu tudo à sua volta
Abrandou-se, rarefez-se e silenciou
Quedou-se, mudo, sem pretensão de explicar-se
O seu espanto era genuinamente sincero
Ao constatar o efeito devastador do seu destempero
Mas logo deixou de especular sobre os seus motivos
E agradeceu pela paz que sentia, afinal.
Olhou, soberano, para o horizonte
E um sorriso quase amoroso desenhou-se em seu rosto
O menino encontrara os restos do seu carrinho
As pessoas acorreram, aos poucos, avaliando as perdas
E se puseram a percorrer as ruínas, planejando a reconstrução
O vento, com um olhar enigmático, contemplou a devastação
Uma ave piou, quebrando o silêncio gerado pelo espanto
E naquele mesmo dia, tudo voltou ao normal.
Flori Jane