LUZ DE MINHA VIDA

 Luz de minha vida, meu amor, encarnado
      No teu ser, que me faz assim apaixonado
      Em êxtase me deixas em total humildade
      E eu sou todo teu entregue à tua verdade

      Não há além, que quem estará a teu lado
      Ante ti, e o mais que for, seja comparado
      Porque tu, mulher, és essência, lealdade
      E, de tudo o que existe, a grata realidade

      Pouso minhas mãos nas tuas, rogo amor
      Aperto-as, junto ao coração, disponho-as
      Em cruz, sentindo, de meu corpo, o calor

      Todo o meu propósito és tu, subtil manhã
      Que, nas doces alvuras, logo exponho-as
      Ao orvalho, que reveste as folhas como lã

      Jorge Humberto

Gravidade

Inexplicavelmente
A poesia joga
O homem para o alto
Para dentro do céu azul
Para as estrelas

Mas em seguida
Desinteressada  joga-o para baixo
De cara no chão
Grudando o nariz no asfalto
Espalhando miolos por todos os lados

Carlos Assis

FAROL DA PAIXÃO

Ao longe pisca o farol
      em intermitente paixão
      na ausência do deus sol
      Na distância da paixão

      Se, do amor, o arrebol
      distancia o coração
      Ao longe pisca o farol
      em intermitente paixão

      Em sustenido ou bemol
      na pauta de uma cançaõ
      almas no céu ou no seol
      encontram sua inspiração
      se ao longe pisca o farol…

Jorge linhaça

Eu vou me lembrar.

 não tente entender

      a mente das pessoas

      

      não tente entender

      a vida das pessoas

      

      não tente entender

      o coração das pessoas

      

      não tente entender

      o gosto do veneno

      

      não tente entender

      uma carta de despedida

      

      não tente entender

      as tramas do destino

      

      não tente entender

      porque os padres perdoam todos os pecados

      

      não tente entender

      a lingua alemã

      

      não tente entender

      um poema desesperado

      

      eu vou me lembrar

      

      carlos assis

Feiticeira

Quem és, alma ditosa que me enleias
nessas redes de amor tão bem tecidas?
Que retorces paixão, tramas urdidas
nesse coração, pasto de mil teias?

És o vento que silva entre as ameias,
és suspiros de vidas já vividas?
És o pranto da terra, o sal das vidas,
és o néctar correndo em minhas veias?

És de fogo plantada, és paixão,
és a fonte de luz, livro já lido,
és o porto seguro, compaixão…

És um sonho sonhado não vivido,
és senhora do pó, és coração,
feiticeira do amor sempre pedido.

António Castel-Branco

CHAMADO

Quase indecente me chamas
em memórias , em lembranças,
no teu corpo acendes as flamas,
carnavais antigos, esperanças ?

Viajas pelo arco do concerto,
transmutada em pomba da paz,
num ir e vir do desejo incerto,
movimento que o mar sempre faz.

” É água do mar, é maré cheia”
Lua que brilha, sol que se vai…
Ondas que cobrem castelos de areia.

Oceano profundo, maré que se esvai,
aranhas urdindo nós de suas teias,
dilacerando e sugando o que nelas cai.

Jorge Linhaça

Angústia e Humilhação

Se a poesia lhe fizer bem
Então não vale nada
Rasgue-a
Afogue-a
Queime-a

Carlos Assis

AMOR, QUE SAUDADE!…

Foram noites de sonhos, de fantasia…
      O último Carnaval deixou saudade!
      Amor virtual, tal qual a realidade…
      E dois teclados, o salão da folia.

      Nosso idílio evoluiu o samba-enredo,
      Não teve confete nem música ao vivo…
      Foi um Carnaval cibernético, ativo;
      Todas as noites, até de manhã cedo.

      Em vez de escutar a batida do samba,
      O pulsar do coração a gente ouvia,
      O silêncio matava o tom da folia
      E assim nós nos amávamos pra caramba.

      Enquanto a orgia tomava as ruas,
      Brincávamos, gostoso, ao computador…
      Que saudade dos teus versos de amor
      E daquelas poesias lindas, tão tuas.

      Estou louco para repetir a dose
      Nestes próximos dias de Carnaval…
      Dois computadores, um amor total.
      Virtual, nossa “Praça da Apoteose”…

      Lorenzo Yucatán

A DANÇA DOS CISNES

Num cristalino lago cisnes representam,
Em semicírculos uma dança apaixonada
Levando que os amantes que ostentam,
Nos belos jardins o credo de sua amada

Prestem mais tento, a quem apresentam
Àquela como, por eles, a mais cuidada,
Com todo o amor, com que se lamentam
Se ela não está à sua espera à chegada.

O amor tem duas faces e merece apreço,
Às vezes o cuidar bem não é o suficiente,
Porque quem ostenta julga seu o adereço.

Outras, o cuidar menos bem, só intervêm,
Se quem é subjugado, o é estritamente
Rigoroso, afirmando-se como aqui alguém.

Jorge Humberto

SONHOS E CANÇÕES

Ao por do sol, sobr’as águas do mar,
      viajo em sonhos e canções perdidas,
      à espera da presença do luar
      ouvindo as tristes ondas a marulhar
      lambendo a areia em busca de vida.

      Pássaros ciscam a areia da praia,
      buscando espólios de alimentos,
      Quiser’eu ser como uma arraia,
      não andar neste fio da navalha,
      poder dar vazão aos meus sentimentos.

      Sonhos que me assomam acordado,
      as canções que se perdem no frio vento,
      melodias compostas de passado,
      pentagramas agora rabiscados:
      Alma que canta, em busca de alento.

      Estranha força que me leva a cantar,
      soltar minha voz, sangrando no peito,
      tentando abafar as ondas do mar,
      qual um lobo uivando ao luar:
      Cantando odes de amores desfeitos

Jorge Linhaça

SOB A LUZ DO ARCO-ÍRIS

 Desfilas sob a luz do arco-íris
      teu manto tremula ao vento
      exitando entre o ires ou vires,
      viver ou matar, teu sentimento.

      As flautas que ao longe escutas,
      o canto do vento em um assovio,
      poemas em linhas já tão curtas,
      previsão do tempo, hora do estio.

      As cores que agora pintam o céu,
      resquícios de uma última chuva,
      eternizada em folhas de papel,

      em lápis de cor, sabor de uvas,
      últimas gotas a sorver do mel,
      perdidas no tempo e suas curvas.

Jorge Linhaça

Pedi para voltar no tempo!…

      Ah encontrei-me com um anjo…

      Estava eu a caminhar tristonho e indagou-me ele:

      – O que tens?

      Disse-lhe: – Ai meu anjo se ao tempo pudesse voltar…

      Então, o ser de encanto e luz, me colocou a seu colo e disse-me:

      – O que farias se pudesse? E passei então a falar…

      “Se, ao tempo pudesse voltar, colocaria cada flor que arranquei novamente na terra,

      para que ela pudesse sorrir à muitos…

      Daria ao irmão desconhecido tudo aquilo que não me faria falta em meus armários,

      daria mais valor às coisas pequenas que passam frente aos nossos olhos,

      às vezes desapercebidas por estarmos a correr sempre…

      Cuidaria mais da saúde de meu corpo, por vezes esquecido pelo trabalho constante,

      daria mais atenção a meu lar, viveria mais meu canto.

      Entenderia mais, daria ao pássaro que me oferece o canto a saudação de meu amor;

      Ao sol que me oferece a luz, a gratidão de minha alma.

      Aproveitaria o encanto que a luz ofereceu-me para sob ela amar…

      Cederia mais, procuraria ser mais aluno aplicado do que professor;

      colocaria aos pés dos que amei mais de mim do que dei…

      Ensinaria ao ignorante o caminho da luz antes, de simplesmente ignorá-lo…

      Procuraria perdoar o traidor, pois, ao invés de minha ira eles necessitam de minha pena e perdão

      por terem sido tão fracos.

      Prestaria mais atenção às crianças, eternos e grandes professores por serem dotadas da pureza.

      Acolheria mais meus velhos, tirando de cada um de seus contos

      aprendizado a ser colocado em prática…

      Entregar-me-ia mais à leitura, buscando entre os grandes mestres literários,

      o conhecimento necessário para poder ensinar a todos que dos livros não puderam ter acesso…

      Ah…Se pudesse anjo, voltar ao tempo…

      A cada manhã, ao invés de falar só uma vez: -Te amo mamãe, papai…Diria muito mais vezes…

      Ah, se pudesse ainda, corrigiria tudo que me fez perder meu amor e,

      a este grande amor que conheci me entregaria ainda mais…

      Ah se pudesse voltar!…

      Por fim, não ficaria olhando os erros e chorando…

      Partiria em busca de corrigi-los e, ao me entregar aos braços da senhora morte poder falar:

      Fui feliz!…”

      Abri os olhos, e o anjo disse-me: – Então voltes!…

      E, cá estou…

      Paulo Nunes Junior

ESPERO POR TI

Espero-te com flores, ò meu amado,
      sob o sol dourado de nossa paixão,
      trago o desejo em meu coração,
      de estar para sempre ao teu lado.

      Espero ansiosa a tua chegada,
      olhando a estrada de nossa vida,
      de amor plenamente imbuida,
      na ânsia de ser por ti, já, amada.

      Meus olhos serenos, amendoados,
      trazem o castanho das castanhas,
      e a luz do meu peito apaixonado,

      Chamas que queimam minhas entranhas,
      o cheiro acri doce do pecado
      à espera de carícias tamanhas.

 Jorge Linhaça

AMOR E VINHO

O vinho pisado das ricas uvas

      Colhidas em correta estação

      Assemelha-se, pois, às mil chuvas

      De gotas rubras em meu coração.

      

      Pisados no lagar, amor e uvas,

      Escorrem o liquido rubiáceo

      A correr como cascatas turvas

      Pra alma o amor, as uvas pro tacho.

      

      Embriagam, ambos, ao ser humano

      Tiram o tino, turvam a razão,

      Safras colhidas, ao longo dos anos,

      

      Reflexos dos ensejos, emoção,

      O vinho alegra, deixa insano,

      O amor entorpece o coração.

Jorge Linhaça

EU VOU PARTIR

AH! EU VOU PARTIR
      NÃO VOLTO MAIS A ESTA ESQUINA
      SEI QUE JÁ PERDI
      A LUZ DO OLHAR EM TUAS RETINAS

      AH! EU VOU CANTAR
      NÃO VOU CHORAR, NEM VOU SOFRER
      EM OUTRO LUGAR
      EU HEI DE AMAR E DE VIVER

      CHORA O VIOLINO
      O SURDO BATE EM DESCOMPASSO
      VEM O SOL A PINO
      E ME ABRAÇA EM SEU MORMAÇO

      
      Jorge Linhaça